JOSÉ CAMELO DE MELO RESENDE
( Brasil – Paraíba )
José Camelo de Melo Rezende (Guarabira, 20 de abril de 1885 - Rio Tinto, 28 de outubro de 1964) foi um poeta e cordelista brasileiro.
Um dos maiores autores da literatura de cordel brasileira, trabalhou como marceneiro e carpinteiro e a partir da década de 1920 iniciou nas poesias em folhetos.
Já autor de renome no cordel, escreveu, em fins da década de 1920, o folheto O Romance do Pavão Misterioso. Neste mesmo período, envolveu-se em problemas e necessitou ausentar-se da Paraíba por um longo tempo e é quando João Melchíades Ferreira da Silva tomou para si a autoria do folheto, publicando-o. Este cordel tornou-se um dos maiores clássicos deste gênero literário, sendo um dos mais vendidos no nordeste brasileiro e tendo inspirado telenovelas, animações, canções e peças de teatro. Até a atualidade, se discute a verdadeira autoria do romance.
Além de Pavão Misterioso, José escreveu outros cordéis de sucesso, como:
As grandes aventuras de Armando e Rosa conhecidos por Coco Verde e Melancia; Entre o amor e a espada; História de Joãozinho e Mariquinha; O monstro do Rio Negro; Pedrinho e Julinha.
Biografia e foto extraídos de:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Jos%C3%A9_Camelo_de_Melo_Rezende
PINTO, José Neumanne. Os Cem Melhores Poetas Brasileiros do Século. Textos introdutórios e notas bibliográficas de Rinaldo Fernandes. Pesquisa, revisão de poemas e coordenação de direitos autorais Santra Moura. 1ª. reimpressão. São Paulo: Geração Editora, 2001. 324 p. ISBN 85-7509-003-8
Ex. bibl. Antonio Miranda
O PAVÃO MISTERIOSO
(fragmento)
Creuza disse: — Estou pronta,
Já podemos ir embora!
E subiram pela corda,
Até que saíram fora.
Se aproximava a alvorada,
Pela cortina da aurora.
Com pouco, o conde acordou,
Viu a corda pendurada
Na coberta do sobrado.
Distinguiu uma zoada
E as lâmpadas do aparelho
Mostrando luz variada.
E a gaita do pavão
Tocando com rouca voz.
O monstro de olhos de fogo
Projetando seus faróis,
O conde mandando praga,
Disse a moça: — É contra nós!#
Os soldados da patrulha
Estavam de prontidão,
Disseram — Vem ver, Fulano!
Lá vai passando o pavão!
O monstro fez uma curva
Para tomar a direção.
Então dizia um soldado:
— Orgulho é uma ilusão!
Um pai governa a filha,
Sem mandar no coração —
E agora a condessinha
Vai fugindo do pavão!
O conde olhou para a corda,
Viu o buraco no telhado.
Como tinha sido vencido
Pelo rapaz atilado,
Adoeceu só de raiva,
Morreu por não ser vingado.
Logo que Evangelista
Foi chegando na Turquia
Com a condessa da Grécia,
Fidalga da monarquia,
Em casa de João Batista
Casou-se no mesmo dia.
Em casa de João Batista
Deu-se o grande ajuntamento,
Dando viva aos noivados,
Parabéns do casamento.
À noite teve retreta,
Com visita e cumprimento
Enquanto Evangelista
Gozava imensa alegria,
Chegava um telegrama
Da Grécia para a Turquia.
Clamando a condessa Creusa
Pelo motivo que havia.
Dizia o telegrama:
Creusa, vem com teu marido
Receber a tua herança:
O conde é falecido.
Tua mãe deseja ver
O genro reconhecido.
A condessa estava lendo,
Com o telegrama na mão.
Entregou a Evangelista
Que mostrou a seu irmão,
Dizendo: — Vamos voltar
Por uma justa razão.
De manhã, quando os noivos
Acabaram de almoçar,
E Creusa sem trajes de noiva
Pronta para viajar,
De palma, véu e capela
Pois só vieram casar.
Diziam os convidados:
— A condessa é tão mocinha,
Mas, vestida como noiva,
Tornou-se mais bonitinha!
Está com um buquê de flor,
Séria como uma rainha!
Os noivos tomaram assento
No pavão de alumínio
E o monstro levantou-se,
Foi ficando pequenino —
Continuou o seu voo
No rumo do seu destino.
Na cidade de Atenas
Estava a população
Esperando pela volta
Do aeroplano-pavão,
Ou cavalo do espaço
Que imita o avião.
Na tarde do mesmo dia
Que o pavão foi chegado,
Em casa de Edmundo
Ficou o moço hospedado,
Seu amigo de confiança
Que foi bem recompensado.
E também a mãe de Creusa
Já esperava vexada.
A filha mais tarde entrou,
Muito bem acompanhada,
De braço com o seu noivo
Disse: — Mãe, estou casada!
Disse a velha: — Minha filha,
Saíste do cativeiro!
Fizeste bem em fugir
E casar no estrangeiro!
Tomem conta da herança —
Meu genro é meu herdeiro!
J ustiça, só a de Deus,
O juiz que já não era,
S enhor que, do Céu pra Terra,
E stende os poderes seus!
C omo somos pigmeus,
A Ele não enxergamos,
M as, contudo, precisamos
E naltecer Sua Luz,
L embrados que, com Jesus,
O Satanás afastamos.
(Transcrito de O pavão misterioso, pp. 28-31)
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Página publicada em dezembro de 2022.
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